“Há aproximadamente uma década e meia, eu vivia em uma granja junto com meus pais. A poucos metros de nossa casa vivia uma família que se dedicava a criar porcos, além de lá funcionar também um matadouro. O criadouro de porcos era dos Smith, cujos negócios não iam muito bem pois suas vendas estavam caindo constantemente.
O certo é que essa família era composta por somente dois membros, Peppa Smith e seu pai, Johan Smith. A mãe da menina havia sido levada para a prisão por tentar assassinar seu marido Johan com um machado, na frente de sua filha, quando estava em estado ébrio.
Pois bem, essa Peppa de quem falamos era minha amiga. Era uma garota agradável e dócil, apesar de tudo pelo que havia passado. Tinha sardas no rosto e era um pouco gordinha, coisa que havia herdado de seu pai. Às vezes, eu acompanhava Peppa para dar de comer a seus porcos, dos quais Peppa tinha seus favoritos.
Era uma família de porcos, onde o macho era um animal enorme e obeso (se me lembro bem, Peppa dizia que ele estava meio cego) e a fêmea pôde ter somente duas crias, por ser pouco fértil. Uma das crias, um simpático leitãozinho, não fazia como os outros, não fazia “oinc”, só grunhia como um demônio (ou um dinossauro) e a outra leitoa era extremamente grande também.
Leia mais sobre a origem de “Peppa Pig” nas próximas páginas.
Minha amiga gostou tanto de seu desenho que chamou seu pai para ver. Quando o senhor Johan chegou, pegou Peppa pelas tranças e começou a gritar: “Maldita! Quantas vezes falei para não fazer carinho nos porcos? Hoje de manhã arrumei a máquina trituradora e vou voltar com a produção de carne. Esses animais putrefatos que você desenhou na parede estão doentes! Amanhã mesmo vou me desfazer deles e os venderei ao açougueiro”.
Peppa começou a chorar e eu fui abraçá-la, mas eu pai se colocou no meu caminho e a levou para triturar restos para dar de comer aos porcos. Ela estava muito triste, dava para escutar da minha casa como ela chorava, quando o pai começou a dar machadadas no porquinho que ela havia chamado de Peppa Pig.
Ela veio para perto do meu celeiro com as mãos cobertas de sangue do animal para ficar comigo e, entre lágrimas e choros, pintou com sangue o vestido da porquinha menor, a Peppa. Depois desenhou um sorriso vermelho sobre o giz rosa e parou de chorar. Levantou o olhar até mim, deu alguns passos lentos e sussurrou para eu ir com ela triturar os restos de dejetos, porque não haviam acabado os do dia anterior.
Eu a segui e chegamos na máquina trituradora, uma máquina automática imensa de grande potência. Minha amiga a ligou e encheu uma bacia de coisas desagradáveis e subiu uma escadinha. Uma vez em cima, eu a vi jogar o conteúdo e logo depois desceu com algo ainda mais fedorento.
Eu, paralisado de pânico, corri até ela, mas tropecei e derrubei a pequena escada que ainda sustentava os pés de Peppa. A menina já havia triturado seu braço até o ombro e a máquina continuava. Inocentemente e com a intenção de desligar a máquina, me dirigi à canaleta da pasta e toquei tudo aquilo... Mas o sangue espirrou na minha cara e um pedaço de Peppa chegou na minha boca.
Eu só escutava os gritos horríveis de Peppa, que ainda estava viva. Eram os gritos mais desesperadores que eu ouvi na minha vida. Mas, de repente, pararam. A máquina havia engolido o corpo todo de Peppa. Eu estava em choque, então saí chorando pela porta quando umas mãos me seguraram rapidamente. Eram meus pais e Johan, que haviam ido ajudar ao escutar o barulho.
O pai de Peppa viu as pernas de sua filha penduradas na parte superior do triturador automático. Tirou com força, como se quisesse salvá-la da máquina, mas a máquina, já quase atolada, não parava de trabalhar, fabricando essa pasta ensanguentada do que sobrou dela.
Meus pais me levaram correndo para casa, pedindo que eu esquecesse, quando o lógico seria me perguntar tudo o que havia acontecido.
Pouco depois, ficamos sabendo que a história foi pega pelos criadores da série, que ficaria conhecida postumamente, mostrando o dia-a-dia da simpática porquinha, chamada Peppa, que vive feliz com sua encantadora família, nas colinas...
Na próxima vez que minha filha reclamar, não poderei deixar de lembrar desses desenhos que aquela menina pintou na parede do meu celeiro, agora encarnados na televisão. Ainda posso sentir seu sangue em minhas mãos. Não a esquecerei, Peppa Pig."